Acabou o docLisboa. Tenho de admitir que foi uma surpresa muito agradável: vimos 7 filmes no total (dois deles premiados na Competição Nacional — melhor documentário português de curta-metragem e menção especial), com salas sempre cheias, e todos eles proporcionaram sorrisos e reflexões.
Tenho alguma dificuldade em nomear o meu preferido. O Segredo, além de uma plateia bastante agradável, foi muito bem disposto, com Dias Lourenço a contar a sua fuga da Cadeia do Forte de Peniche com grandiosos apontamentos humorísticos («passaram a primeira noite toda a bater-me mas eles, coitadinhos, cansavam-se»). O Adeus à Brisa é um interessante registo biográfico de Urbano Tavares Rodrigues. Quando o Carnaval Chegar, não sendo documentário, é a prova bastante que um filme — mesmo com um som miserável, pouca qualidade, uma história sem grande nexo nem grande piada — pode ser fantástico só por ter músicas de Chico Buarque, interpretadas por ele, Maria Bethânia e Nara Leão.
Les Ouvrières de la Sogantal foi sem dúvida o filme que deu mais elementos para reflexão. Com uma imensa fauna a vê-lo (que conseguiu limitar um potencialmente interessante debate posterior), o filme pega em imagens e outros elementos da luta das operárias da Sogantal, no Montijo, a seguir ao 25 de Abril, e faz as protagonistas recordar e reflectir sobre ela. Além de criativos versos colectivos (onde desponta o refrão Daqui ninguém nos tira, daqui ninguém arreda, se o patrão aqui vier corremos com ele à pedra), um dos elementos mais interessantes é a reivindicação básica das operárias, característica dos «excessos revolucionários» da época: 13.º mês, férias pagas, aumentos salariais.
Sexta-feira, mais dois filmes. Tóquio Porto 9 horas é uma curta-metragem de 8 minutos que compara estas duas cidades, explorando as suas semelhanças e diferenças. O filme que se seguiu foi como uma revelação: Homeostética 6=0. Diga-se que o filme vale essencialmente pelo material recolhido. É uma constante sucessão de pérolas nos mais diversos domínios da arte... pintura, escultura, literatura, música, cinema. «É moderno, é desusado, é pandeireta, é pato assado.» Fantástico!
Por último, O Mistério do Samba. Foi uma grande pena termos perdido os primeiros trinta minutos do filme, por lapso nosso. A recolha musical que é feita, as conversas com as mulheres e os homens que construíram a escola da Portela, a sóbria mas brilhante participação de Marisa Monte, são tudo elementos que valorizam o filme... mas é sobretudo belo ver a confirmação de que «um dia, afinal, tinham direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia, que se chamava carnaval».
Dois últimos registos. Um primeiro, que os filmes mais interessantes são sem dúvida os que têm sujeito e construção colectiva. Um segundo, que já começou o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.
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