sexta-feira, 26 de junho de 2009

Da música para um harmónio encontrado

Fui ver um espectáculo nesta noite que passou ao Coliseu. Fui sozinho mas ao chegar lá, e mesmo na entrada para as galerias, à esquerda, estavam vários amigos (meus e de outras pessoas, já que também eram, no mínimo, amigos entre si). Aproveitei e fiquei com eles. Como o som estava a chegar em condições muito deficientes, deslocámo-nos todos lá para a frente. A tarde estava soalheira e convidativa e por isso acabámos por nos deixar seguir pelas ruas desertas (tenho ideia que não encontrámos a frente do palco quando decidimos dar a volta pelo quiosque). As ruas de facto estavam desertas mas nós enchemo-las de vida. «Diz aí ao Alexandre que já li o Nu Entre Lobos.» E continuávamos por aquelas ruas acima sem preocupações. De um momento para o outro, começámos a dispersar. As ruas, além de desertas, estavam a tornar-se vazias de edificações: apenas pequenos muros, indicando propriedade, definiam os limites do passeio. Não sei o que passou pelas nossas cabeças mas começámos a correr. «Cambada de atletas, não sabiam que eram capazes...» Dei tudo de mim e lá os consegui acompanhar. Foram abandonando o passo de corrida, mas eu, animado pela minha velocidade, continuei até chegar ao cais. Apenas se via o sol no horizonte: era a tarde que terminava. Como no humor físico, não consegui abrandar e caí do cais abaixo (bom, na verdade, consegui transformar essa queda num movimento gracioso). Felizmente, a maré estava tão baixa que aterrei de pé numa espécie de tapete de tartan. Quando os outros chegaram é que reparámos estar no meio de um viaduto. Desviámo-nos dos carros que passavam por nós em alta velocidade. Encontrámos uma porta e saímos. Cá fora, olhei para a porta — era uma porta dupla, com um sol dividido ao meio — e reconheci o local. Estávamos numa intensa zona comercial. «Oh, anda cá ver isto, foi aqui que vos comprei aquele relógio de parede. Deixa ver se eles ainda cá o têm.» O conceito era simples: uma tela com os ponteiros à frente e o mecanismo atrás. A grande piada estava naturalmente na tela. Não havia a que tinha comprado, mas havia dezenas de outras. Uma em particular havia em tal número que me fez supor que ninguém, jamais, tinha comprado um daqueles exemplares: um cavalo («Parece o Bon Jovi!»), daqueles que aparecem nos calendários. Numa outra loja encontrei uma vasilha de barro preto, como há em Molelos, carinhosamente trabalhada.

Foi nesse momento que me dei conta de todo o conforto que sentia ali; percebi onde estava! Já tinha sonhado com aquele sítio antes!

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