O escândalo da Super Bock

Os novos anúncios da Super Bock Stout, em cartaz e em televisão, têm gerado uma onda de contestação, vários textos de opinião e inclusive «movimentos» (se se pode chamar isso a algo tão estático como o facebook).

Das mais interessantes, sobretudo porque centra o anúncio noutros aspectos, é esta. De resto, iniciam-se todas com aquele ar de dama ofendida ao ser acusada exactamente daquilo que fez. «Oh, jamais!» Dizer que o anúncio se vira para um público masculino heterossexual devia querer dizer, por um lado, que se reconhece a legitimidade da empresa se direccionar para quem quer. Além disso, nada impede que se direccione igualmente, especialmente o cartaz, para um público feminino homossexual.

Diga-se que o principal estereótipo não está relacionado com as mulheres, evidentemente, mas com os homens. Como todos os estereótipos, é pouco criativo, mas tem um fundinho de verdade que permite a sua aplicação alargada.

Em relação ao anúncio televisivo, dá-me igualmente a entender que os rapazes estão a frequentar um local onde se vê televisão, se bebe Stout e só trabalham mulheres, que entretanto os massajam. É pobre, volto a referir. Mas também é verdade que as moças provavelmente estão lá a trabalhar. Como neste sítio, um mero restaurante. É decadente? Sim. Mas é reflexo de uma decadência real e existente.

Bem mais grave parecem-me os anúncios da AirWick com uma série de animais a falar sobre as fragrâncias que o dito produto deita pela casa.



Mais grave porque o que aqui está em causa não é trabalho remunerado mas uma má divisão das tarefas domésticas. Ora se isto não é merecedor de «movimentos»?...

No entanto, o pior deste anúncio da Super Bock é, naturalmente, o seu produto. A Stout é o pior produto da Super Bock, o que naturalmente a obriga a usar todos os mecanismos disponíveis para o promover. Quanto a outros, basta ver o que aqui ou aqui foi dito sobre o produto em destaque e sobre o destaque do produto. Não muito, mas o suficiente para a elevar no seu altar.